top of page

Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada. Como diriam Jorge Ben Jor e Arnaldo Antunes, cabelo pode ser cortado, comprido, traçado, tingido, escovado e por que não crespos ou cacheados? Segundo uma pesquisa da Unilever, 51% das brasileiras possuem os cabelos originalmente cacheados ou crespos, e a maioria das mulheres que assumem o visual "black power" são as nordestinas e as cariocas, 33% e 35% respectivamente. Ainda de acordo com o estudo, o formato ideal dos fios ainda divide opniões. Enquanto 30% das entrevistadas conservam os cachos, 15% alisam e 5% relaxam os cabelos para deixá-los apenas ondulados.

E o assunto tem ganhado cada vez mais discussões. No início de Novembro, um evento na Pontíficia  Universidade Católica do Rio de Janeiro chamou a atenção para a beleza natural de cada mulher. O I seminário internacional encrespando apresentou palestras, painéis, curta-metragens e debates sobre a questão. De acordo com Élida Aquino, do blog "Meninas black power", o objetivo da mostra foi reunir estudantes, ativistas e pesquisadores sobre o tema e fazer com que o cabelo afro ganhe mais espaço.

Visibilidade que os cabelos crespos até ganham, mas na maioria das vezes seguido por preconceito. Segundo o Doutor em Sociologia, Luiz Augusto Campos, os comentários pejorativos em relação ao tipo de cabelo é mais comum do que os em relação à cor da pele. "O cabelo crespo ainda é visto como algo ruim e as pessoas o associam a inferioridade." Campos tem diversas pesquisas sobre racismo e destaca que o mais comum nesses casos é o chamado "preconceito velado", ou seja, quando há uma repetição associada e as próprias pessoas que o cometem não vêem como racismo.

Gabriela foi alvo de piadas racistas na Universidade. E não foi pelos colegas de curso, mas sim por professores. Ela viveu três situações de racismo velado. Uma das professoras do curso de Moda da PUC-Rio, apontou para a estudante e disse que pessoas com o cabelo "armado" como o de Gabriela, atrapalham as outras no cinema. "Mesmo com certo desconforto, no primeiro instante não percebi a gravidade da declaração, mas meus amigos me incentivaram a não me calar". Em outra aula, a professora, repetiu a história e a estudante de moda não se conteve. "Eu disse que seria comum ela encontrar mulheres de cabelo crespo em todos os lugares, pois estamos nos libertando da ditadura da chapinha e nos assumindo". Em outra oportunidade, e com outra professora o mesmo preconceito. A docente perguntou à Gabriela se o signo dela era Leão. A graduanda então resolveu dar queixa na 12° DP de Copacabana.

Umas das criadoras do seminário

Élida Aquino, uma das criadoras do seminário

Cacheadas sim!

Na internet as pessoas se sentem em uma terra sem lei e não tem medo de expor as pessoas e o próprio preconceito. Tiraram uma foto de Milleni no ônibus e compartilharam nas redes sociais com a seguinte legenda: "Nunca vi smurf com black power". Em poucas horas, a foto viralizou na web. Alguns acharam engraçado, outros se revoltaram e alguns acharam que ela estava se fazendo de vítima. A modelo diz que não se abalou com os comentários, mas não admite preconceito. "Não abaixo a minha cabeça de jeito nenhum".

A blogueira não gostava do cabelo crespo quando era criança. Ela diz que as referências de beleza sempre foram de mulheres com os fios lisos, seja na televisão ou em casa, com a mãe e a irmã. Ela decidiu assumir os cabelos crespos em 2009 quando em uma ida a praia, entrou no mar e não sentiu vergonha de não estar lisa. "Hoje, eu sinto que eu mesmo tinha preconceito com meu cabelo. E só quando me senti bonita, pude me libertar da ditadura da chapinha".

Gabriela Monteiro, 26 anos, estudante de moda

 Milleni Bezerra, 21 ,modelo

Nanda Cury, 26, dona do "blog das cabeludas"

Duro é o seu preconceito!

O preconceito não tem idade. Nem para quem sofre, nem para quem o pratica. Uma coleguinha da escola perguntou para Carolina por que o cabelo dela era duro. E a menina respondeu como gente grande. "Meu cabelo não é duro não. Sabe o que é duro? Ter que aguentar gente ignorante falando isso". Uma outra amiguinha pediu para Carol fazer chapinha no cabelo, pois ela ficaria mais bonita lisa. E novamente ela teve a resposta na ponta da língua. "Eu quero meu cabelo pra cima, bem volumoso".

A pequena usa o seu canal no YouTube pra incentivar e dá dicas para meninos e meninas de como é lindo ser negro e conta como lidar com criticas. Com mais de 74 mil visualizações, o canal é mantido por Patrícia, mãe da menina, que conta que Carol acompanha toda a movimentação em torno dos vídeos. ” Ela lê todos os comentários, se emociona e sente a energia de cada um deles. Nosso sonho é que um dia todas as pessoas de cabelo crespo possam ter a liberdade de assumir a sua identidade. Que um dia usar cabelo black power não seja moda nem estilo e sim o natural, o comum. Que um dia nosso cabelo não seja mais agredido, sendo chamado chamado de ruim, de duro. Nosso cabelo não é ruim, ruim é o racismo”, disse Patrícia.

"estamos nos libertando da ditadura da chapinha e nos assumindo"

"não abaixo a minha cabeça de jeito nenhum"

"Hoje, eu sinto que eu mesmo tinha preconceito com meu cabelo"

E você, como prefere seu cabelo?

Assumindo os cachos 

Fotos: Thales de Lima
bottom of page